A base do espiritismo não é a reencarnação
- Taty Mendes
- 28 de mar. de 2018
- 5 min de leitura
Apesar de ser um importante tema tratado pela Doutrina Espírita, a reencarnação não é a base do Espiritismo. Ela é uma consequência lógica desta Doutrina que se baseia em três pilares: Ciência, Filosofia e Religião. Neste artigo, pontuo trechos de temas complexos como aperitivo, para um estudo aprofundado posterior.
Começo reportando que a grande contribuição do Espiritismo para os seus seguidores, ao meu ver, é o entendimento claro de que Deus é a causa primária de todas as coisas e que ele é soberanamente bom.

Na Doutrina Espírita Deus é uma força criadora, algo ainda muito incompreensível para nós. Então, se leva a sério a frase do apóstolo João que tanto anda em adesivos de carros: “Deus é amor”. Ou seja, Deus é a força do amor.
Pronto, agora vamos falar de algumas questões que cercam o Espiritismo à partir do princípio do amor de Deus.
Reencarnação
Bom, esclarecido que Deus é soberanamente amor e, portanto, quer que eu vença, não há que se pensar que eu tenho apenas uma chance. Seria muito pouco para um ser ainda tão imperfeito como eu. Você realmente acredita que Deus, que é a força do amor, poderia condenar um filho por meio de uma punição eterna por uma falta? Não faz sentido! Diante da Doutrina, quando nos deparamos com uma criança nascida com doenças graves, não se vê punição de Deus, mas uma oportunidade de corrigenda de um espírito eterno que andou caminhando longe da Lei do Amor e que, mesmo com a alma ainda adoecida, tem oportunidades de se melhorar e se aproximar dessa soberana Lei.
Portanto, a reencarnação é uma conclusão lógica das oportunidades que Deus coloca em nossas vidas. É importante que fique claro que o sofrimento não faz parte da Lei de Amor e sim o aprendizado. Na medida em que aprendemos a nos libertar da culpa, medo e apego não há mais sofrimento. Por fim, reforço que a reencarnação não serve para se “pagar” karmas e sim para o aprendizado. Ou seja, se você aprendeu a lição… bola para frente e que venham as próximas.
Ciência e Filosofia
Se Deus criou TUDO, então o ato de estudar a Bíblia, ou a física quântica, ou a sabedoria das coisas é a mesma coisa. Estaremos, assim, estudando a criação de Deus. A ciência e a filosofia contribui com o entendimento da criação e dos movimentos de Deus. Infelizmente, a ciência se distanciou de Deus por causa de uma visão equivocada Dele. Por muito tempo vimos Deus como um velhinho de barbas brancas sentado em um trono no Céu. No entanto, quando o cientista começou a estudar os astros e o “céu” não foi possível encontrar esse Deus e nem esse tal trono. Assim, o cientista se distanciou de Deus sem sequer pensar na possibilidade de modificar o seu entendimento de Deus.
Portanto, quando o cientista passa a entender Deus como uma força do amor, ele começa a vê-lo na beleza da sua criação. Dos arranjos atômicos até a infinidade do universo, das relações humanas ao entendimento do ser… em tudo há Deus.
Assim, o espiritismo abraça a Ciência e a Filosofia completamente. Afinal, a Doutrina foi codificada por um grande cientista.
Pecado e Perdão
Da mesma forma, a reforma íntima é o exercício contínuo do encontro com o Deus que há em mim, visto que sou criada à sua imagem e semelhança. Quanto mais eu me melhorar, mais próxima de Deus estou. Ou seja, preciso deixar de pecar, mas calma, há que se esclarecer que “pecado” vem do latim “peccatu” e significa erro. Quando se atirava uma flecha em um alvo e se cometia um erro, diziam: você cometeu um peccatu.
Em sua acepção original, a expressão hebraica chatta’th, passando para o grego hamartia e depois, para o latim, peccatu, não indicava pecado como ofensa a Deus, mas sim qualquer tipo de erro, como errar o caminho para um endereço ou um lançamento de flecha errar o alvo. [1]
Ou seja, agir de forma contrária a Lei do Amor é cometer um pecado, um erro. Ao atuar em pecado é preciso voltar para a Lei: “O amor cobre uma multidão de pecados”, disse nosso mestre Jesus.

Como reverter esse pecado? Simplesmente perdoar.
Ressalto que o sufixo per significa “através”. Assim, [per] + [doar] significa doar através. Perdoar não é se sentar no trono poderoso e conceder um voto de perdão ao outro ser inferior. Nada disso! Significa ir até o outro e doar tempo, amor, preces e muito mais. Por exemplo: ao perdoar um pai, se doe jogando xadrez com ele uma vez na semana. O sentimento de alívio de alguma mágoa vem naturalmente com o tempo. Para se perdoar, compreenda que você errou por não saber e passe a estudar e trabalhar no bem. O perdão é movimento.
Religião
Religião vem da palavra “religare”. O prefixo “re” não significa novamente e sim “com intensidade”. Sendo Deus a força do amor, a religião é o movimento do qual eu me ligo com intensidade a esta força. O exercício religioso mais importante para o espirita é a prática da caridade, que é o exercício do amor. Quando pratico a caridade sincera, sem esperar retorno, estou buscando a minha conexão com Deus. Por isto, todo centro espírita tem tantas obras de caridade.
O culto mais importante da religião na concepção espírita é o exercício do amor, ou seja, a caridade.
As doenças
Somos criados à imagem e semelhança de Deus sim, somos amor em essência, mas ainda estamos vagando na dualidade. Isso significa que o seu corpo não foi feito para funcionar fora da Lei de Amor. A raiva, a ansiedade, a angústia, tudo isso nos adoece. A doença leva para o corpo as impurezas da alma. Uma profunda limpeza.
O momento da doença pode ser representado como aquele momento em que o GPS recalcula a rota. Nesse momento, você fica confuso e tem que aguardar a nova rota se restabelecer. Aí, você se coloca novamente no caminho da Lei de Amor. Os tratamentos de doenças físicas, nos centros espíritas, não levam em consideração apenas o corpo físico, mas o ser integral. Ou seja: mente, emoções, corpos físicos e energéticos e espírito. Tudo é tratado em conjunto e, por isso, junto com alguma aplicação de passe é recomendada a leitura de livros e a reflexão íntima para que se corrija a rota do ser.
Jesus
Quando Alan Kardec perguntou aos Espíritos qual o modelo de ser evoluído que devemos seguir (pergunta 629 do Livro dos Espíritos), a resposta foi imediata: Jesus. Sendo Jesus exemplo de amor, ou seja, aquele que atingiu a ligação com Deus em plenitude, precisamos estudá-lo para “copiá-lo”.
Jesus é o nosso modelo e guia e, portanto, no Espiritismo se estuda muito sobre ele. O que ele fez, o que ele falou, o que ele comeu, as curas que ele produziu. Tudo estudado à luz da Ciência, Filosofia e Religião.
Jesus é Deus para o Espírita?
Não e sim, nessa ordem. Ele é um espírito em evolução, assim como eu e você. No entanto, ele já se purificou tanto que já atua completamente na Lei de Amor. Ou seja, conhecê-lo é conhecer Deus. Entendeu? Por isso Jesus dizia: Eu e meu pai somos um. Se conhecêsseis a mim, conhecerias meu Pai. Um dia, diremos isso. Vai demorar um “tiquinho”, é verdade, mas Deus está nos conduzindo.
Por onde começar?
Trouxe aqui apenas algumas pequenas pinceladas sobre temas bem complexos, mas se você quer aprender mais sobre o espiritismo não recomendo que comece a ler o Livro dos Espíritos. Leia o livro “Kardec, a Biografia” [2]. Este livro foi escrito pelo jornalista, não espírita, Marcel Souto Maior que, brilhantemente, nos contou como foi a trajetória de Kardec. Vale a pena ler! Então, você vai entender a grandeza dessa Doutrina que não é de uma pessoa, mas de um grupo de estudiosos no qual você é um convidado a participar.
Procure um centro espírita kardecista que você encontrará:
Palestras interessantes com foco na reforma íntima (melhoria contínua), estudos sobre o Evangelho de Jesus, e também física, química e mediunidade, que é tudo a mesma coisa e muito mais.
Referências
[1] https://marcoaureliorocha5.blogspot.com/2011/03/o-que-e-pecado-visao-espirita.html
[2] Kardec a Biografia. https://www.amazon.com.br/Kardec-biografia-Marcel-Souto-Maior/dp/8501100676?tag=goog0ef-20&smid=A1ZZFT5FULY4LN&ascsubtag=go_726685122_51601401518_242574450465_pla-460986696959_c_
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